domingo, 7 de outubro de 2007

TESTEMUNHA DO FIM DO UNIVERSO

Os pequenos cortes que varam o céu mais escuro, trazendo um espetáculo belo mas efêmero, são chamados popularmente de estrelas cadentes. Para as pessoas que prestam muita atenção nos céus enquanto estamos a nos preocupar com as drogas das aparências, esse é um fenômeno que ocorre com muita freqüência. Uma freqüência insuspeita, duvidosa, às vezes.

Pedrinho era um daqueles que as via com muita freqüência, cabeça nas nuvens, alguns diziam, rapaz compenetrado, diziam outros. Dera certo nos empregos por onde passou, construiu amizades sólidas com quem pôde, e pôde bastante, responsabilizou-se diante de um deus que sequer acreditara a fazer uma mulher feliz por toda a sua vida, sempre se questionou sobre o mal que suas atitudes, mesmo que indiretas, poderiam provocar. Era muito preocupado, tinha várias preocupações, a irmã mais velha, meio burrinha, saindo com um cara que ele sabe que não presta, o pai desempregado cada vez bebendo mais, acabando aos poucos com uma das poucas coisas que ele ainda sentia, pena, a mãe sempre atarefada com os afazeres domésticos, as roupas para fora, costura, ouvindo aquelas rádios a.m. com algum aproveitador barato, cínico e cheirador, dando-lhe uma lição de vida diferente por dia, e a casa querida onde passou a infância, período realmente feliz, cair aos pedaços. Tinha ainda o fato de sua mulher suspeitar que esta grávida de novo. Ele realmente tinha muito com que se preocupar.

Esse fenômeno aqui chamado então de estrelas cadentes, nada mais são que restos de estrelas que viveram muitos e muitos anos antes daqueles que vieram antes de nós. É o resto de uma história que começou tão longe, tão no começo, que só pode representar o fim. È a imagem possível do que está acontecendo lá na frente e só agora chegou até nós, uma mensagem, talvez, uma mensagem muito importante, uma mensagem que traga um segredo. O fim do universo.

E dessas estrelas tão mais antigas que nós, das quais não sobraram mais que estes restinhos que só servem para riscar nosso céu mais escuro, Pedrinho, nosso herói, se distrai para poder viver de alguma maneira que ele ache minimamente decente, fazendo, pelo menos, uma coisa que ele gostava de fazer:

Testemunhar o fim do universo.

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